InícioEntretenimentoCelebridadeOuça gravação inédita de música cantada por João Gilberto

Ouça gravação inédita de música cantada por João Gilberto

As manias de João Gilberto (1931-2019) sempre fizeram parte do folclore e do anedotário da música brasileira. No YouTube, há até uma coleção de vídeos dele reclamando do aparelho de ar-condicionado em mais de uma casa de espetáculo. Volta e meia, o pai da Bossa também cancelava um show em cima da hora, como fez em 1988, ao alegar uma gripe e suspender as três apresentações que faria no Teatro Municipal do Rio.

Diante desse histórico, todo contratante de um espetáculo do gênio do violão brasileiro passava umas noites sem dormir antes das apresentações. Mas em 1998, quando ele foi cantar no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, foi diferente. Pelo menos, é o que assegura o diretor geral do Sesc-SP, Danilo dos Santos Miranda: “Ele se apresentou por três noites, sempre no horário marcado e nunca reclamou do barulho nem do ar-condicionado. E ainda permitiu que a plateia cantasse com ele. Foi tudo muito tranquilo e agradável”, relembra Danilo.

Agora, 25 anos depois, o público pode finalmente conhecer o registro da última daquelas noites: está disponível na plataforma Sesc Digital a gravação do show que o cantor baiano apresentou no dia 5 de abril de 1998. O lançamento é o primeiro do projeto Relicário, que prevê a chegada em breve de gravações de outros artistas realizadas no Sesc.

Inédita
Entre as 36 faixas de João Gilberto, há um tesouro: a gravação de Rei Sem Coroa. A composição, de Herivelto Martins e Waldemar Ressurreição, nunca tinha sido registrada na voz de João Gilberto e esta é uma oportunidade única para os fãs do artista.

Essa faixa já está em outras plataformas de músicas, mas o álbum completo só pode ser escutado na plataforma do Sesc. Em 26 de abril, sai o CD, com um encarte repleto de informações e as outras 35 canções também chegam a plataformas como Spotify e Deezer.

No encarte, já disponível no mesmo site onde se ouve o álbum, há um texto da jornalista Kamille Viola que explica a origem de Rei Sem Coroa: “Foi feita por Herivelto Martins a partir de um tema que recebeu de Valdemar Ressurreição, seu parceiro nessa e em muitas outras músicas. A letra foi inspirada na história do rei Carlos II, da Romênia, que, após ser forçado a abdicar de seu trono durante a Segunda Guerra, em 1940, foi viver no Copacabana Palace ‘sem nenhuma realeza ostensiva’ e logo virou assunto no Rio de Janeiro”.

Intérprete
Na plateia do Sesc, estavam 645 privilegiados que puderam assistir ao show que deu origem à gravação. Um dos presentes naquela noite era o letrista Carlos Rennó, conhecido por canções como Escrito nas Estrelas (que venceu o Festival dos Festivais em 1985, na voz de Tetê Espíndola). É Rennó que assina outro texto do encarte, A Bossa do Samba ou A Recriação (Radical) do Samba.

Admirador do cantor e violonista baiano, Rennó explica a razão dessa admiração:

“O grande interesse que me leva a admirar uma obra como a de João Gilberto é justamente o amor pela palavra cantada e pela forma como ela é cantada. João, como intérprete que é, é uma referência modelar dentre os artistas que se destacam pelo modo como cantam. Ou seja, pelo modo como cantam a palavra poética”.

Habitual frequentador das apresentações de João Gilberto, Rennó às vezes ia ao mesmo espetáculo por mais de uma vez: “Desde os anos 1980, nunca deixei de ver um show dele. E ia mais de uma vez para observar a forma diferente como ele cantava uma mesma canção em noites diferentes”.

Repertório
Além da inédita Rei Sem Coroa, há outras importantes gravações, que já haviam sido registradas na voz de João, mas não estão nas plataformas de música atualmente: Violão Amigo (Bide e Marçal), Nova Ilusão (Menezes e Luiz Bittencourt), Curare (Bororó) e Carinhoso (Pixinguinha e João de Barro). Curare ficou conhecida originalmente na voz de Orlando Silva (1915-1978), um dos cantores favoritos de João. Rosa Passos e Maria Bethânia são outras que registraram a canção.

Grafite do artista Speto, em São Paulo. A imagem é usada na capa do álbum lançado pelo Sesc (foto: Daniel Frias/divulgação)

O clássico Carinhoso, uma das músicas mais gravadas do cancioneiro nacional, pode ser escutado na voz de João no YouTube, em outras gravações que não aquela do Sesc. Mas os que têm ouvido mais exigente perceberão que o registro lançado agora é muito superior. Toda a gravação, das 36 canções, é bom ressaltar, é incrivelmente limpa e foi remasterizada com qualidade digna de João Gilberto.

O cantor chegou a ouvir a gravação original, que chegou a ele através de sua filha Bebel Gilberto, diretora artística desse lançamento. O projeto começou a ser desenvolvido em 2018, pouco antes da morte do artista.

“Tínhamos uma relação muito boa com a Bebel e ela foi figura chave nesse processo. E João gostou da gravação, segundo ela. Ele tinha perfeccionismo, que faz parte do DNA do Sesc”, diz Danilo Miranda.

No repertório, predominam composições de Tom Jobim, um dos criadores mais presentes na obra de João. Das 36 faixas – que somam 118 minutos -, 13 são do maestro carioca. Desafinado, Eu Sei Que Vou Te Amar, Wave… poucos clássicos ficaram de fora. Embora estejam longe de ser novidades na discografia de João, é sempre bom ouvi-las, pois, como observou Rennó, o cantor, com a voz e o violão, de vez em quando fazia uma pequena mudança, perceptível aos mais atentos.

OUÇA O ÁLBUM COMPLETO

Vale observar que João também fazia modificações nas letras de algumas canções. Certamente, isso não acontecia por desconhecimento dele, mas provavelmente era mais uma de suas manias. E uma das funções de Rennó no projeto foi apontar, no encarte, as alterações que João fazia.

No caso de Ave Maria no Morro (Herivelto Martins), por exemplo, o cantor preferia usar “amanhecer” no lugar de “alvorecer”. Em Bahia com H (Denis Brean), cantava deixa ver” em vez de “quero ver”. O trabalho de mostrar essas diferenças, que talvez seja nada além de uma curiosidade, revela o capricho dos trabalhos do Sesc. Em breve, segundo Danilo, devem ser lançadas gravações de João Bosco e Zélia Duncan. “E queremos também lançar Paulinho da Viola”.

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