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Panorama Coisa de Cinema promove equilíbrio entre diretores e diretoras

Maputo Nakuzandza, de Ariadine Zampaulo e Mugunzá, de Ary Rosa e Glenda Nicácio

Cinco mulheres e cinco homens dirigem os oito filmes que concorrem na mostra Competitiva Nacional de longas-metragens no XVIII Panorama Internacional Coisa de Cinema, que acontece a partir do dia 3 de novembro e vai até o dia 9. A equidade – que deveria ser “normal” – chama a atenção, afinal sabemos que o meio cinematográfico é, ainda, muito machista. 

Segundo um relatório do Center for the Study of Women in Television & Film, em Hollywood apenas 4% dos diretores são femininos, quando se consideram os 250 filmes de maior bilheteria. No Brasil, em 2018, considerando todos os filmes lançados em qualquer fonte de exibição, o número chegou a 20%, de acordo com a Ancine – Agência Nacional do Cinema.

As mulheres que dirigem os filmes indicados à Competitiva Nacional do Panorama são: Heloisa Passos, por Eneida; Julia Murat, por Regra 34; Joana Pimenta, por Mato Seco em Chamas – codireção com Adirley Queirós; Ariadine Zampaulo, por Maputo Nakuzandza, e Glenda Nicácio, por Mugunzá – codireção com Ary Rosa. Os demais filmes que concorrem são: Três Tigres Tristes, de Gustavo Vinagre; Pele, de Marcos Pimentel; e Cidade Porto, de Bernard Attal.

Marilia Hughes, cineasta e uma das curadoras do Panorama, diz que este equilíbrio no número de homens e mulheres na direção dos indicados tem, sim, um peso na lista final:

“Não olhamos para isso num primeiro momento, mas, quando fechamos a lista, precisamos criar alguns critérios e esse equilíbrio de gênero conta”.

Segundo a curadora, o nenhum filme está entrando apenas pelo fato de ser dirigido por uma mulher, mas porque “a obra se colocou com muita força para a curadoria”. “Eu, como curadora e mulher no cinema, fico feliz de poder encontrar mulheres com obras potentes. A vontade de manter esse equilíbrio no número de homens e mulheres jamais dificultou a curadoria”, garante Marília. Além dela, estão na curadoria o cineasta Cláudio Marques, as cineastas Ceci Alves e Camila Gregório e os críticos João Paulo Barreto e Rafael Carvalho.

Ary Rosa, que dirige Mugunzá com Glenda Nicácio, repete a dobradinha com a colega pela quinta vez. E mais: eles nunca trabalharam separados em longas para cinema. Os dois se formaram juntos no curso de cinema da Ufrb em Cachoeira e seguiram juntos a caminhada profissional. São sócios na produtora Rosza Filmes. 

Para o cineasta, trabalhar sempre com uma mulher permite um “duplo olhar” que enriquece os filmes.

“São referências diferentes, modos diferentes de viver a vida. São vontades diferentes. E não diria que um é ‘complementar’ ao outro. Mas que isso ‘dobra’ o filme: temos o dobro de olhar, de experiências e vivências. Nem sei como é dirigir sem ela, mas eu sei que eu gosto!”, diz.

No elenco de Mugunzá, estão Fabricio Boliveira e Arlete Dias. Segundo Ary, o filme é a história de uma mulher que acorda e, ao se dar conta de que a vida dela “saiu de lugar”, resolve fazer justiça com os homens que interferiram na vida dela. O orçamento foi minúsculo, em torno de R$ 100 mil. “Mas isso não quer dizer que seja um filme ‘pequeno’. O filme tem 17 músicas e uma performance grande de elenco”, alerta Ary.

O longa-metragem foi todo gravado no Cine Theatro Cachoeirano, com uma equipe reduzida devido a restrições orçamentárias e também ainda por causa da covid. No set de filmagens, ficavam apenas sete pessoas. Depois, , na finalização, outras pessoas entraram na equipe, segundo Ary. E apesar do baixíssimo orçamento, niguém trabalhou de graça. “A gente trabalha também com participações no filme. Arlete e Fabrício receberam salários muito abaixo mesmo do que receberiam em qualquer circunstância. Mas tem participação na venda e no lucro”, diz o diretor.

Um novidade importante do Panorama deste ano é que a exibição de filmes será exclusivamente presencial, ao contrário do que ocorreu no ano passado, quando aconteceu parcialmente nas salas e, em parte, online. E Cachoeira volta a receber a exibição dos filmes, no Cine Theatro Cachoeirano, com entrada gratuita. Em Salvador, o Panorama acontecerá no Metha Glauber Rocha e os preços serão divulgados em breve.
 

LONGAS DA COMPETITIVA NACIONAL

1 –  Eneida, 79’, Documentário, 2022 – PR
Direção: Heloisa Passos

2- Regra 34, 100’, Ficção, 2022 – RJ
Direção: Julia Murat

3-  Mato Seco em Chamas,  110’, Documentário, 2022 – DF
Direção: Adirley Queirós e Joana Pimenta

4-  Três Tigres Tristes, 86’, Ficção, 2022 – SP
Direção: Gustavo Vinagre 

5- Pele, 75’, Documentário, 2021 – MG
Direção: Marcos Pimentel

6- Maputo Nakuzandza, 60’, Ficção, 2020 – SP
Direção: Ariadine Zampaulo

7- Mugunzá, 101’, Ficção, 2022 – BA
Direção: Ary Rosa e Glenda Nicácio

8 – Cidade Porto, 100’, Documentário, 2022 – BA
Direção: Bernard Attal 

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