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Por que a Argentina leva milhões às ruas de Bangladesh durante a Copa

Uma multidão vestida de celeste e branco toma as ruas da capital em coro uníssono pela Argentina. Mas os cantos em alegria genuína não são no castelhano platense típico de Buenos Aires. A 17 mil quilômetros dali, a festa que rompe a madrugada em plena quarta-feira é em Daca, capital de Bangladesh. Minutos antes, Lionel Messi comandou a classificação dos argentinos à final da Copa do Mundo do Catar e causou toda aquela euforia no Sul da Ásia. Ao mesmo tempo, vários dos gritos de celebração ao redor do Estádio Icônico de Lusail tinham sotaque bengali, pelas vozes de imigrantes que vivem no Catar.

“Messi é o jogador número um do planeta. Em Bangladesh, todo mundo ama o Messi e o time da Argentina” sorri Mohamed Saiful, que desfila pelo Souq Waqif, mercado tradicional de Doha, com uma camisa e um cachecol nas cores da seleção sul-americana, que neste domingo (18) decide o Mundial diante da França, às 12h (de Brasília), novamente em Lusail.
Às vésperas da tão aguardada final, o número de argentinos no Catar deve chegar a 30 mil. Muitos decidiram viajar de última hora, e 15 novos voos foram anunciados com desembarque neste fim de semana.
A ‘invasão’ sul-americana multiplica a torcida pela Scaloneta, que tem sido maioria esmagadora nos jogos da Copa também em função daqueles que nasceram em outras partes do mundo, mas alimentam uma paixão sem fronteiras pela seleção.
No Catar, a Argentina recebeu o apoio de torcedores de vários países, como Índia, Nepal, Paquistão, Malásia e Tailândia. Mas a relação com o povo de Bangladesh é visivelmente mais estreita. Bengalis correspondem a quase 12% da população imigrante do país-sede da Copa do Mundo, percentual inferior apenas ao indiano, que supera os 30%.
Pelas ruas, estádios e pontos turísticos cataris, o amor pela bicampeã mundial aparece em faixas, cartazes, uniformes e cachecóis.
“Muitos trabalhadores de Bangladesh que vivem aqui torcem para a Argentina. Tem muita gente que torce para o Brasil também, por causa do Neymar, do Ronaldinho, do Kaká… Mas a maioria gosta mais da Seleção Argentina. As pessoas amam o Messi”, disse Mohamed Neamat.
Ele nasceu em Bangladesh e escolheu a camisa do Catar para ir às compras nessa sexta-feira. A da Argentina está guardada para a final: “Estou ansioso, é a última chance de Messi ganhar a Copa”.
“A gente se reúne para ver os jogos. Está sendo uma alegria grande poder estar aqui no Catar, onde a Argentina está”, disse Mohamed Obaidullah, que saiu de Bangladesh para trabalhar no país árabe.
Muitos deles vieram sozinhos para tentar ganhar melhores salários. Alguns têm dinheiro para ir aos jogos da Copa nos estádios, enquanto outros acompanham tudo dos prédios onde vivem na periferia de Doha.

Ao longo de toda a campanha da Argentina no Catar, milhões de pessoas foram às ruas de Daca para assistir aos jogos e comemorar. A maior universidade da cidade colocou telões para que as pessoas acompanhassem a equipe ao longo da madrugada.
São nove horas à frente do Brasil, então os jogos das 16h começam à 1h da manhã em Bangladesh. Mesmo assim, uma multidão foi às ruas para vibrar pelos gols de Messi e viralizou com vídeos em redes sociais. Os bengalis fãs da Seleção Argentina de futebol somam mais de 350 mil em uma comunidade online.
“Há anos, a camiseta da Seleção, com Diego (Maradona), Leo (Messi), transmite ao mundo uma loucura pelas cores, pela paixão argentina, por como é o torcedor. Me enche de orgulho que um país como Bangladesh torça pela Argentina”, declarou o técnico Lionel Scaloni.
Mais econômico nas palavras, Messi também respondeu sobre o amor que a Seleção desperta do outro lado do mundo: “Obrigado por esse sentimento”.

Como surgiu o amor dos bengalis pela Seleção Argentina?

Os torcedores contam que o amor do país pela Seleção não é recente. Alguns explicam que tudo começou na década de 1970, quando o país asiático se tornou independente.
Naquele período, a Argentina vivia anos dourados no futebol e ganhou a Copa do Mundo pela primeira vez, em 1978. A popularização da camisa alviceleste em Bangladesh veio anos mais tarde, com a magia de Diego Maradona no bicampeonato de 1986.
O título por si só não foi o único motivo que levou tanta gente a torcer pela Argentina. Nas quartas de final daquele Mundial, os sul-americanos derrotaram a Inglaterra, em partida marcada por dois gols históricos de Maradona: o de mão (‘La Mano de Dios’) e aquele em que o craque arrancou do meio-campo.
O triunfo teve festa dupla para argentinos, ‘vingados’ após a Guerra das Malvinas, e bengalis, que viveram em uma região colonizada pelos ingleses até 1947.

Argentinos retribuem

As cenas impressionantes de multidões nas ruas da capital de Bangladesh comoveram muitos argentinos. No Catar, alguns argentinos levaram bandeiras do país asiático aos estádios do Mundial.
No último dia 3, a Seleção derrotou a Austrália por 2 a 1 e avançou às quartas de final. Torcedores foram ao Obelisco na Praça da República, em Buenos Aires, comemorar. Em meio à festa, apareceram bandeiras em verde e vermelho, de Bangladesh.
Na internet, argentinos criaram grupos para apoiar o coirmão no críquete, esporte mais popular do país asiático.
Maximiliano Beltran foi além. O argentino, torcedor do Newell’s Old Boys, tatuou a bandeira de Bangladesh no braço direito.
“Ficou lindo o meu pequeno gesto para retribuir o amor. Quando alguém te ama sem motivo nenhum, você tem que amá-lo de volta. Saudações e muito amor da Argentina e de Rosário, a cidade onde Messi nasceu”, escreveu.
A comoção pelos vídeos foi tão grande que o governo da Argentina anunciou publicamente o processo de reabertura da embaixada em Bangladesh, fechada em 1978 por falta de recursos.
Há uma semana, o chanceler argentino Santiago Cafiero afirmou que a decisão da reabertura se deve ao aumento das exportações ao país asiático e já estava tomada desde abril, embora ainda não tivesse sido publicizada.
A República Popular de Bangladesh tem a oitava maior população mundial, com mais de 166 milhões de pessoas. É o território com maior densidade populacional do planeta. Em 2021, as exportações argentinas para lá totalizaram 876 milhões de dólares, com superávit de 862 milhões de dólares.
Os principais produtos comercializados são óleo de soja, farinha e derivados da extração de soja, milho e trigo. Agora, além das relações comerciais, os países mantêm um amor em comum: a Seleção Argentina.
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