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Primeiro dia de júri do caso Lucas Terra é marcado por emoção e contradições de testemunhas

Após o recesso, o júri popular do caso Lucas Terra teve continuidade na tarde desta terça-feira (25), a partir das 15h10, com a oitiva de outras três testemunhas de acusação e uma testemunha de defesa de Joel Miranda, pastor suspeito de participação no assassinato do jovem. A última testemunha de acusação a ser ouvida foi a mãe da vítima, Marion Terra, que revelou que não teve apoio da Igreja Universal do Reino de Deus ou de algum dos seus pastores em nenhum momento depois da morte do filho.

Marion Terra também disse que não ficou surpresa quando Silvio Galiza, pastor auxiliar condenado por envolvimento no caso – que cumpre a pena em liberdade após reclusão de três anos -, afirmou que Fernando Aparecido da Silva e Joel Mirando tinham sido os verdadeiros assassinos de Lucas. 

“A gente sempre achava que o Galiza não tinha feito aquilo sozinho. Sempre achávamos que era o Fernando, desde o início, porque logo depois que aconteceu o crime, ele reuniu cerca de 800 obreiros cinco dias depois e proibiu que eles ajudassem nas buscas. Naquele momento, ninguém nem sabia de que forma Lucas estava, não havia nem sido encontrado o corpo ainda. Ele [Fernando] disse que eles não podiam se envolver, enquanto igreja, por causa de um Luquinhas qualquer, que um soldado morto tem que ser deixado para trás”, relembrou. 

Por duas vezes, Marion chorou perante o júri ao detalhar os momentos da descoberta do desaparecimento do filho, a notícia da sua morte e a dificuldade enfrentada por ela e sua família para conseguir identificar o corpo de Lucas através de um exame de DNA que foi feito apenas 42 dias após a noite do crime, dada a dificuldade de identificação de tecidos no corpo carbonizado.

Aos sete jurados que compõem o júri, sendo duas mulheres e cinco homens, a mãe de Lucas Terra pediu por justiça. “Nós já sofremos muito como pais. O meu filho eu não posso trazer de volta, eu não posso mudar o que aconteceu, mas eu sei que outros pais e outras mães estão com seus filhos. O que eu quero é que o nome, o sangue do meu filho seja honrado. O sangue do meu filho manchou a imagem dessa empresa disfarçada de igreja. O sangue do Lucas Terra clama por justiça”, enfatizou.

Além de Marion, logo após o recesso, quem prestou depoimento foi Sueli Santos de Jesus, assistente promovida a obreira que, à época do crime, conviveu com Lucas e foi uma das últimas pessoas que viram o garoto com vida. Às 15h10, o júri retornou do recesso e Sueli depôs como testemunha de acusação. Ela confirmou a declaração do antigo obreiro Martoni, testemunha ouvida pela manhã, reiterando que ela e outros fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, na Santa Cruz, foram proibidos de procurar Lucas após seu desaparecimento.

“Nós saímos à procura de Lucas, fomos até Itapuã, Barra, muitos lugares. Tinha muitas pessoas procurando ele. Se eu não me engano, isso durou uma semana. No início, não fomos proibidos, mas depois. Ouvimos que a gente estava prejudicando a igreja, acabando com nossa vida. Quem disse foi o pastor Beljair”, relatou.

Beljair de Souza Santos era o pastor à frente da Igreja na Santa Cruz na época do crime. Segundo Sueli, na noite da morte de Lucas, ela o viu ao lado de Silvio Galiza após o culto. Na ocasião, Galiza afirmou que estava aguardando para buscar alguns documentos na mão de Beljair, já que ele havia sido transferido para a igreja do Rio Vermelho naquela semana. Ela não sabe, no entanto, se esse era o real motivo para a presença de Silvio ali. 

No depoimento, Sueli ainda definiu a relação de Lucas Terra com Silvio Galiza como ‘abusiva’. “Ele controlava toda a vida de Lucas. Queria mandar no menino. Eu dizia que ele parecia o pai dele, porque nunca vi uma relação igual aquela”, frisou.

Mais tarde, no dia do crime, Sueli confirmou que viu Lucas, Silvio e Luciano Miranda de Souza indo em direção ao ponto de ônibus no fim de linha do Vale das Pedrinhas. Depois disso, ela só teve notícias de Lucas quando soube de seu desaparecimento. Comovida, Sueli participou das buscas, mas isso custou sua permanência na igreja.

“No domingo, o pastor Beljair disse ‘é melhor vocês pararem de procurar porque isso é coisa de gente grande e a corda vai partir do lado mais fraco’. Depois, ele não fazia mais reunião, ficava falando, sem citar nomes, que a gente estava contra a igreja. Todos que participaram da busca acabaram expulsos”, relembrou.

Contradições 

Convidado a depor pela defesa do pastor Joel Miranda, o pastor Beljair de Souza Santos negou a versão apresentada por Sueli, alegando que nunca reuniu os obreiros com o intuito de proibi-los a continuar na busca por Lucas Terra na época do seu desaparecimento. Ao contrário do que foi dito pela outra testemunha, ele afirmou que incentivou a procura pelo menino.

“Na quinta-feira, quando o pai de Lucas chegou e disse que não o encontrou, eu fiz uma oração no pai dele e pedi para que os obreiros ajudassem a encontrar o filho dele”, relatou.

Ao ser indagado pela acusação, Beljair também disse que, quando o crime ocorreu, morava com sua esposa, o pastor Joel e a esposa dele no bairro da Pituba. A declaração apresentada hoje contradiz o depoimento dado pelo pastor em 2008. Naquele ano, ele afirmou que na época do crime morava em uma área residencial próxima à Av. Paralela.

Beljair também disse que conhecia Joel e Silvio Galiza de vista antes de passar a ser pastor da Igreja Universal da Santa Cruz. No entanto, Joel Miranda era pastor da Igreja da Pituba, que funcionava como uma espécie de matriz e tinha todas as unidades da igreja na região de Santa Cruz, Chapada do Rio Vermelho, Vale das Pedrinhas subordinadas a ela. Logo, Beljair, enquanto pastor da igreja da Santa Cruz, costumava prestar contas constantemente a Joel. 

Pressionado por todos os lados, Beljair não respondeu se estaria sujeito à punição caso dissesse algo que comprometesse a Igreja Universal. Pastor há 30 anos, ele admitiu que sua função na igreja é sua única fonte de renda e que qualquer informação que falasse no júri a respeito de ordens recebidas por superiores seria motivo para ser chamado para uma conversa interna na instituição religiosa, a qual disse evitar.

Outra testemunha ouvida na tarde desta terça-feira (25) foi Luciano Miranda de Souza, obreiro que acompanhou Silvio Galiza e Lucas Souza até o ponto de ônibus após o culto, na noite do crime. Em seu depoimento, convidado pela acusação, ele foi estimulado a reconstituir o dia 21 de março de 2001. Enquanto confirmou ter lembrança de ver Silvio e Lucas tomando um ônibus, ele alegou que não se lembrava de diversos momentos daquela noite, contrariando depoimentos prestados nos júris de Silvio Galiza, anos atrás.

Ele também afirmou que teve conhecimento do possível envolvimento de Fernando Aparecido e Joel Miranda no assassinato de Lucas através de um vídeo, quando foi prestar depoimento no Ministério Público. Contudo, Luciano disse que não lembrava do conteúdo assistido.

Júri popular

Nesta quarta-feira (26), o júri popular terá continuidade e deverá ouvir as demais testemunhas de defesa de Joel Miranda. A previsão é de que, até sexta-feira (28), todas as nove nove testemunhas restantes, além dos réus, sejam ouvidos. Após essa etapa, o promotor do caso e a equipe de defesa dos réus devem apresentar as provas técnicas e somente depois dessa fase que os jurados serão encaminhados para a sala secreta, onde vão votar pela definição da sentença.

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