Há três meses, um motorista de aplicativo, que prefere não se identificar, teve seu carro roubado enquanto esperava uma cliente na Avenida Gal Costa, no bairro de Pirajá, em Salvador. Os bandidos conseguiram sumir com o veículo e nunca foram encontrados. Essa identificação pode ficar mais fácil em Salvador com a instalação, desde essa terça-feira (14), de 1.200 câmeras inteligentes de segurança, que já começaram a operar na cidade, que tem registrado uma onda de crimes, como os arrastões em bares e restaurantes.
Esse número se soma a outras 300 que já funcionam na capital com a mesma tecnologia. São equipamentos capazes de fazer, em tempo real, reconhecimento facial, reconhecimento de placas e análises situacionais que podem ser enviadas para o centro de monitoramento da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), órgão que conduz o projeto Vídeo-Polícia.
Além do centro de monitoramento, agentes nas ruas também recebem os alertas em forma de vídeo na hora em que os crimes acontecem. Uma situação que pode ajudar em casos semelhantes ao do motorista que teve o carro roubado na Gal Costa. Em toda a Bahia, até abril deste ano, de acordo com a Polícia Civil, já foram roubados 4.617 carros e outros 2.028 veículos foram alvos de furtos.
O Monitor da Violência, divulgado pelo portal g1 recentemente, apontou ainda que o estado lidera o ranking de mortes violentas no Brasil nos três primeiros meses deste ano. Foram 1.326 mortes, o que coloca a Bahia à frente de Pernambuco (963 mortes) e São Paulo (812 mortes).
“O grande problema foi o tempo que levei para ligar para a polícia. Como não fiz nenhuma queixa de imediato, acho que não deu para pegar eles na hora enquanto ainda estavam com meu carro na rua”, explica o motorista, que ainda aguarda o pagamento do seguro que tinha do veículo. E é justamente para melhorar o atendimento nessas situações que o projeto de implementação do monitoramento inteligente foi desenvolvido, segundo a SSP-BA.
Câmeras oferecem monitoramento automático e em tempo real (Foto: Divulgação SSP-BA) |
Estratégia de combate
No anúncio do início da operação das câmeras nessa terça, o governador Rui Costa (PT) afirmou que os equipamentos e a integração da comunicação em tempo real da polícia em todo estado serão fundamentais no processo de combate à criminalidade e responsabilização de infratores.
“A grande finalidade deste recurso é dar capilaridade às forças de segurança. Videomonitoramento já existe há algum tempo em vários locais, mas o que estamos apresentando aqui é um sistema de inteligência artificial que processa de forma automática as imagens”, discursou o governador, citando a capacidade das câmeras de identificar ações criminosas sem a necessidade do olhar humano.
Para otimizar essa capacidade e detectar o máximo de ações criminosas possíveis, os equipamentos foram instalados em lugares considerados “sensíveis” na capital pela gestão estadual. O superintendente de tecnologia da SSP, coronel Marcos Oliveira, falou quais são esses pontos: “São alguns lugares como estabelecimentos bancários, escolas, áreas periféricas da cidade. Lugares mais vulneráveis e que precisamos ter um olhar mais atencioso. Buscamos atender essa camada que está desprotegida”, explicou o coronel, afirmando que as localizações específicas dos equipamentos não podem ser reveladas para não prejudicar o trabalho policial.
O que passar em frente às lentes das câmeras vai direto para analistas dos centros de monitoramento da SSP e também para policiais em patrulha. Por isso, 160 smartphones especiais, destinados para uso em serviço, serão entregues a equipes de Salvador e da região metropolitana. Os aparelhos substituem os tradicionais Hand Talks, como também são conhecidos os aparelhos de comunicação via rádio. A partir de agora, os policiais poderão acessar, produzir e compartilhar informações em formato de áudios, vídeos e fotos em tempo real.
Superintendente de tecnologia da SSP, o tenente-coronel Renato Lima falou sobre o acesso às imagens. “As imagens são trabalhadas dentro de um processo lógico pelos analistas e por quem fará o atendimento, que são os agentes na rua. Quem está na rua, inclusive, tem acesso a qualquer imagem não só em Salvador, mas também em todo o estado, mesmo a mil quilômetros de distância”, destacou o tenente.
E não é só em Salvador que os procurados podem ser encontrados através de reconhecimento facial. A prefeitura de Irecê, no norte do estado, apresentou o Plano de Segurança para o São João 2022 e, nele, além da ampliação do contingente policial nas ruas, pela primeira vez, será empregada a tecnologia, com 88 câmeras de alta definição, espalhadas por pontos estratégicos da cidade.
Impacto na segurança pública
As 1.200 câmeras entregues se juntam a 800 que já existiam na capital baiana, sendo que, de acordo com a SSP, 300 dessas já existentes têm a mesma tecnologia das instaladas agora. O coronel Marcos Oliveira indica que os equipamentos têm dado resultado. “Desde quando foi implantado com protocolo na capital, em 2019, o reconhecimento facial já possibilitou a identificação e condução de 256 pessoas. O sistema efetivamente entrou em operação com aquele caso emblemático do Carnaval”, disse ele, se referindo à prisão de um homem em um dos portais da festa mesmo estando fantasiado.
O maior volume de câmeras presentes em Salvador tem impacto positivo para Sandro Cabral, professor de estratégia no setor público no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) e na Universidade Federal da Bahia (Ufba), além de autor de diversos trabalhos na área de segurança pública.
“É positivo porque um dos grandes problemas de Salvador é a sensação de insegurança, e as câmeras podem dar respostas mais rápidas da polícia. Eu mesmo tenho uma pesquisa em São Paulo que indicou que a introdução de radares capazes de fotografar placas de veículos aumenta a recuperação na ordem de 10%”, cita ele, afirmando que a tecnologia deve ser compartilhada com a Prefeitura, com a Guarda Civil e demais órgãos relacionados à segurança.
Em Irecê
E não é só em Salvador que procurados podem ser encontrados através de reconhecimento facial. A Prefeitura de Irecê apresentou o Plano de Segurança para o São João 2022 e nele, além da ampliação do contingente de agentes de segurança, pela primeira vez na história do São João de Irecê, será empregada a tecnologia capaz de notar a presença de procurados pela polícia. Ao todo, são 88 câmeras de alta definição espalhadas por pontos estratégicos.
Ninguém entra ou sai da cidade sem passar por esses dispositivos, que capturam as imagens e transmitem em tempo real para o setor de inteligência da polícia, onde são analisadas “Tudo isso para acolher bem os turistas, garantir a paz do folião e preservar o bem-estar da nossa comunidade. Sem dúvida alguma, a segurança pública vai ser uma das principais atrações do São João de Irecê”, afirmou Elmo Vaz, prefeito de Irecê.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro