InícioSexo, poder, prazer e mulher: tudo é sobre sexo

Sexo, poder, prazer e mulher: tudo é sobre sexo

“Tudo é sobre sexo, exceto sexo. Sexo é sobre poder”. A frase atribuída a Oscar Wilde se fez real a cada dia ao longo dos 15 meses escrevendo diariamente para uma coluna sobre sexo e sexualidade.

Quando se fala em poder, prazer, sexo e público feminino, o resultado é uma enxurrada de ideias pré-concebidas a respeito de quem está falando e, sobretudo, de quem está gozando. O sexo que vive na boca dos homens que detém o poder e podem gozar é livre e incentivado. O sexo na boca da mulher é profano. No corpo, é obsceno. E ainda batemos fortemente na tecla de que todas nós temos direito ao gozo. Sem culpa, só prazer.

Mulher, sexo, sexualidade, orgasmo feminino e tabus. Esses termos batem recordes de palavras digitadas na Coluna Pouca Vergonha enquanto estive como titular do espaço.  

Em uma entrevista com a ginecologista Marcela McGowan, na ocasião do lançamento de seu livro sobre sexualidade, Senta que Nem Moça, ela reforçou que não há como falar em empoderamento sem falarmos de sexualidade feminina.

Tratar o tema com a naturalidade que ele merece é lembrar, constantemente, que “putaria” é diferente de educação e saúde sexual. E que nenhum desses termos é menor, em detrimento do outro. 

No Manifesto do Prazer, na ocasião do lançamento do podcast de sexualidade Prazer sem Tabus, ressaltamos que falar sobre sexualidade e prazer feminino fora da caixa se faz urgente, à medida que as mulheres conquistam acesso a tais prerrogativas. Não há como avançarmos no empoderamento feminino se não incluirmos o orgasmo nesse progresso. Ainda que a passos lentos, as mulheres vêm gozando do prazer que lhes foi negligenciado durante anos.

Nessa luta e aprendizado diário para além do sexo e das dicas quentes, aprendemos muito. Aprendemos do lado de cá na apuração da informação, cumprindo rigorosamente o papel social do jornalismo. Comprovamos que, como também leitores e consumidores de notícia sobre sexo e sexualidade, um termo não se faz menor que qualquer outro, afinal, sexo é política, é saúde, é poder.

Mas não foi apenas sobre sexo que aprendemos. Aprendemos que não existe padrão para a libido. Seu corpo é seu, e você é dona do seu prazer.

Para quem ainda tem dúvidas, os mapas da vulva e do pênis podem ajudar, mas sabemos que o corpo como um todo é orgástico. Além das genitais, entendemos que explorar cada zona erógena também tem seu lugar.

Sexo nunca foi cercado de tabus neste espaço, embora o mundo insista em nos colocar em caixas para medir preferências individuais por réguas padrões permeados de preconceitos. O BDSM e todos os fetiches têm vez. Aprendemos que o termo não serve para descrever sexo ou sexualidade. Quando se trata de prazer, tudo é válido, desde que são, seguro e consensual.

O sucesso de audiência durante meses, a sentada fatal, tem explicação para ser a posição sexual favorita dos brasileiros. Mas aqui, na Pouca, a dica é para quem senta! Nada de deixar o falo no protagonismo do prazer, embora respeitemos todos os tipos de gozo.

Por falar em diversidade, celebramos as delícias de ser quem se é (sem ignorar dados assombrosos e as dores de ser plural em um país que mais mata LGBTQIA+). Levamos, ao longo do ano, o respeito que o tema merece e que não cabe apenas ao mês de junho.

Celebramos as várias formas de amor e de amar, que vão desde o amor monogâmico, sabendo que o romantismo tem seu lugar; até as novas composições. Trisal, swing, poliamor e formas não convencionais de viver a sexualidade são temas de relevância que vale a pena serem retratados, com esclarecimentos.

Desde 2020, vimos crescer o número de lojas de produtos eróticos, com o empreendedorismo feminino à frente. Junto às cifras, aumentou, ainda, o número de mulheres gozando. A masturbação feminina nunca ficou de fora do nosso manual, e ouvimos (e partilhamos!) as dicas de quem mais entende do assunto. 

Por fim, pornô é coisa de mulher, sim. A diretora sueca Erika Lust é prova disso, com uma pornografia que  foge aos padrões heteronormativos e valoriza o prazer feminino, além de mostrar um sexo real e provocante. A roteirista traz um olhar queer em seu trabalho, valorizando o espaço da mulher no consumo do conteúdo erótico.

No Brasil, Cinthia Fajardo, diretora do Grupo Playboy Brasil, traz o olhar da mulher no universo erótico e coloca no centro da cena o prazer feminino. 

Sexo é saúde. Não à toa, a Organização Mundial de Saúde (OMS) considera a sexualidade como um aspecto fundamental na qualidade de vida de qualquer ser humano e a saúde sexual entra como uma condição necessária para o bem-estar físico, psíquico e sociocultural. O gozo é revolucionário. Uma mulher que goza é uma revolução. Seja a sós, seja em trio, seja em par. Seja livre.

Sou uma, mas sou plural A Pouca Vergonha é mulher. É feminina e é feminista. É feita de ciclos, como as mulheres e as fases de Lua, e circular que somos, um ciclo se fecha para que um novo recomece. Com mais força, com mais vida e mais pulsante do que nunca.

Ao longo desses meses, eu, Luiza Barufi a Coluna, porém, destaco que não faço nada sozinha. Jornalismo de verdade é feito com apuração e respeito à função social. Cada especialista em sexualidade que entrevistei sabe as dores e delícias de trabalhar com essa temática. 

Agradeço, em especial, aos parceiros de jornada que nunca negaram esclarecimentos e entrevistas. Também celebro tantas mulheres ao meu redor, que inspiram e foram pautas, incontáveis vezes. 

O desafio é grande. A passos lentos, vamos caminhando, sem esquecer que até o prazer é um desafio para o sexo feminino, e não podemos titubear. Podemos gozar a vida enquanto lutamos.

A Pouca Vergonha segue livre, segue fluida e em mãos que prezam por prazer sem tabus e o compromisso social do jornalismo. 

Que sigamos escrevendo e debatendo abertamente sobre sexualidade. Que não tenhamos que mascarar letras para ocupar lugar. Que “s3x0” seja sexo. Que seja livre.

Por fim, pego emprestado as palavras de Hilda Hilst: “O que é obsceno? Obsceno? Ninguém sabe até hoje o que é obsceno. Obsceno para mim é a miséria, a fome, a crueldade. A nossa época é obscena.”

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