Não foi dessa vez. Depois de muitas especulações sobre a possibilidade de transferência do circuito Dodô para a Boca do Rio/ Patamares, a prefeitura decidiu que não há mais tempo hábil para fazer a mudança e, em 2023, a festa continuará no trajeto Barra/ Ondina. Artistas já tinham se manifestado contra a alteração, e empresários e foliões comemoram a decisão anunciada nesta sexta-feira (19).
O projeto elaborado pelo Conselho Municipal do Carnaval de Salvador (Comcar), entidade que reúne os agentes envolvido com a folia, foi apresentado ao prefeito Bruno Reis (União Brasil) na quinta-feira (18). O gestor afirmou que à primeira vista a mudança trará benefícios para a festa, mas disse que precisa de mais tempo para fazer uma análise detalhada da matéria.
“Ao conversar com nossa equipe ontem [quinta-feira], diante da magnitude do projeto e análise que precisa ser feita, não há como dar uma posição se é viável e se dá para colocar todos os serviços: saúde, segurança, toda estrutura montada pela Saltur [Empresa Salvador Turismo], sem uma análise mais profunda. Por mais que corrêssemos, não tinha como dar uma resposta com segurança em menos de um mês”, explicou.
A manutenção da folia na Barra em 2023 não significa que a discussão acabou. Bruno Reis lembrou que no próximo ano haverá uma nova configuração do Comcar e que essa pauta pode voltar a discussão. “Esse novo circuito vai surgir a partir da nova orla que vamos construir na Boca do Rio, obra que homologamos hoje. A partir daí o segmento que realiza o carnaval pode fazer essa discussão ao longo de 2023”, afirmou.
Questionado se o posicionamento de artistas contrários a mudança influenciou na decisão, Bruno disse que “a opinião de todos contribuiu, mas a principal motivação é a falta de tempo tendo em vista que já está em curso a comercialização dos produtos, como blocos e camarotes”. O gestor prometeu mais investimentos para fortalecer os circuitos Osmar (Campo Grande), Batatinha (Centro Histórico) e o carnaval nos bairros.
Repercussão
O anúncio aconteceu no Espaço Cultural da Barroquinha, ao lado da Praça Castro Alves, um dos locais simbólicos do carnaval, e teve participação da Banda Didá. O prefeito arriscou alguns passos de dança ao som de Faraó, um dos hinos da festa. A decisão de manter a folia na Barra teve repercussão imediata. O presidente do Comcar, Joaquim Nery, comemorou e ratificou que o tempo é curto para fazer a mudança.
“A gente comemorou muito, porque essa foi uma recomendação do Conselho. O prazo [para a festa] está muito perto. Foram dois anos de pandemia e sem carnaval, então, é necessário tempo para fazer essa organização. O prefeito foi muito sensível. Agora, o que devemos fazer é focar no carnaval de 2023, mitigar os problemas da festa e buscar aqueles que estavam em dúvida sobre participar da folia por conta dessa insegurança”, disse.
Esse também é o objetivo do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA), Luciano Lopes, que participou da cerimônia na Barroquinha e defendeu a permanência da festa na Barra. A cidade tem 40 mil leitos e a meta é conseguir 100% de ocupação.
“É uma decisão acertada. A possibilidade de mudança em 2023 estava gerando muita insegurança para o cliente final. É importante remodelar o carnaval, como foi anunciado, fortalecer todos os circuitos, mas acredito que é possível transformar o carnaval de Salvador sem mudar o circuito. Essa será a grande magia e a grande essência de nossa cidade. Vamos fazer uma grande festa”, afirmou.
Desde que a possibilidade de mudar o circuito da Barra para a Boca do Rio em 2023 foi anunciada, em julho, artistas como os músicos Bell Marques, Xandy (Harmonia do Samba), Durval Lelys, Luiz Caldas e Tatau demonstraram insatisfação e frisaram que o prazo estava apertado. Nas redes sociais, foliões também criticaram a mudança. O motorista por aplicativo Marcelo Lima, 29 anos, acredita que existe uma questão de identidade.
“Não é apenas uma festa, o carnaval é a principal festa de Salvador e a cara dos baianos. Onde a gente chega todo mundo nos conhece por conta dessa festa, então, existe uma relação de amor com os locais. A Barra tem uma série de problemas, mas se a única solução for mudar para a Boca do Rio isso precisa ser discutido com toda a cidade”, afirmou.
Quem é a favor da mudança diz que o circuito está superlotado e não consegue mais oferecer conforto mínimo para a implantação dos serviços básicos de suporte. A dificuldade de mobilidade de carros e ônibus é outra queixa recorrente, além do aperto dos foliões na Avenida Oceânica, por onde os trios desfilam, e nas ruas transversais.
Na Boca do Rio o espaço é mais amplo. A orla do bairro passará por reformas nos próximos meses. O investimento será de R$ 130 milhões na requalificação, até Piatã, e a expectativa é de que a obra seja concluída em um ano. O trecho onde aconteceria a folia será finalizado primeiro, cerca de cinco meses após o início das intervenções, previstas para começar em setembro.