InícioNotíciasPolicialUcranianos que vivem em Salvador criam escultura em repúdio à guerra

Ucranianos que vivem em Salvador criam escultura em repúdio à guerra

Quando foi acordada pelo barulho da explosão de uma bomba disparada pela Rússia contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro do ano passado, Olha Syvash, cidadã ucraniana de 64 anos, não imaginava que o conflito se estenderia por um ano, completado nesta sexta-feira (24). Três dias depois do bombardeio, ela fugiu do país natal e, hoje, vive em Salvador. Mas, apesar de agora estar segura na capital baiana, não se sente em paz. 

Por isso, no dia do aniversário do conflito, Olha e amigos realizaram uma intervenção artística no Largo da Mariquita, no Rio Vermelho, pedindo pelo fim do ataque ao seu país. Com a bandeira da Ucrânia estendida nos ombros, ela, a filha, Anastasiia Syvash, 34 anos, e outros conterrâneos instalaram uma escultura simbolizando a paz e o luto, no local. O grupo também acendeu velas e cantou o hino ucraniano.

A escultura é de uma boneca usando trajes típicos: um vestido branco com detalhes em vermelho e preto nas mangas, uma coroa de flores na cabeça e um avental na cintura pintado com os mesmos detalhes do resto da roupa. A peça foi construída para representar a força do povo ucraniano. O preto simboliza o luto por todos aqueles que perderam a vida na guerra e pelos que ainda sofrem por causa do confronto. Já o vermelho, está ali para exaltar a vida que segue pulsando nos corações de quem está lutando por seu país e sendo nutrido pela esperança de dias melhores.

 A escultura, feita com garrafas PET, com 2,80m e 180 kg, faz referência a uma Mótanka, uma boneca típica da Ucrânia, que simboliza a resistência. Aqui, ela foi batizada de Sotero-ucraniana. “Eu não queria deixar a Ucrânia, mas não tive escolha. Como não posso lutar lá, a gente faz o que pode daqui, não nos calando contra a maldade que está sendo praticada lá”, destacou Olha.

Da esq. para a dir.: Olha, Anastasiia, Volha e amigos ucranianos cantam hino da Ucrânia em protesto contra a guerra (Foto: Emilly Oliveira/ CORREIO) 

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), um ano depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, o país atacado contabiliza oito mil civis mortos. Mas, desde o primeiro dia, o conflito afeta a filha de Olha, que vive no Brasil há dois anos, e havia visitado a cidade ucraniana Kharkiv – a 30km da fronteira com a Rússia – onde sua mãe morava, três dias antes do início da guerra. Desesperada pelo que estava acontecendo em seu país, e preocupada com a mãe, Anastasiia correu sozinha para o Pelourinho, com um cartaz nas mãos, para protestar contra a guerra. O que a trouxe para o Brasil foi o interesse pelo país, mas ela se casou com um soteropolitano e permaneceu aqui. Graças a uma amiga do casal, Volha Yermalayeva Franco, 34 anos, seu apelo ganhou eco.

Volha é representante da Embaixada Popular de Belarus no Brasil e vivi aqui há 12 anos. Seu país natal é vizinho da Ucrânia e também sofre com as imposições russas, por isso, as duas se juntaram e passaram a realizar intervenções contra a guerra pela cidade. Para criar a Sotero-ucraniana, tiveram a colaboração do artista plástico André Fernandes, natural de Salvador. Ele tem diversas esculturas pela cidade feitas de material reciclado e fez uma intervenção com alunos de escolas públicas, no Rio Vermelho, contra a guerra.

A sotero-ucraniana foi feita por André, e pintada por Anastasiia, que atua com estampa ria de camisas com seus desenhos, vende e converte o dinheiro em ajuda para as pessoas que estão sofrendo em seu país. 

“Fiquei extremamente feliz quando recebi o convite de Anastasiia e Volha, para essa intervenção de um ano, porque eu também já queria protestar de alguma forma contra este absurdo. Precisamos trabalhar juntos, porque, além de vidas, estamos perdendo a nossa história”, alertou André.

Russos, ucranianos e descendentes de ambas as nacionalidades também realizaram um ato em frente ao Consulado Geral da Rússia, na Zona Sul de São Paulo, na sexta-feira (24). Exibindo cartazes de repúdio à guerra, declararam apoio aos ucranianos e contra o presidente russo Vladimir Putin.

*Com a orientação da subeditora Fernanda Varela.

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