Havia uma pedra no meio do caminho que obrigava ao silêncio o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante-de-ordem de Bolsonaro: militar que honra a farda não delata companheiros.
Por pior que tenha sido o mal produzido pelos companheiros, não os trai. Espírito de corpo é o que move o Exército. Deduro vai para o inferno. Homem que é homem aguenta tudo, impávido colosso.
Uma vez que o Exército deixou de ser um espaço privativo dos homens em 1943, a mulher que impõe respeito também não entrega os colegas. Pau que bate em Chico bate em Francisco.
Um exemplo? O general Augusto Heleno viu muitas coisas reprováveis nos quatro anos em que serviu a Bolsonaro como ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e não gostou.
Quando chamado a depor na CPI do Golpe da Câmara Legislativa do Distrito Federal, por acaso ele contou o que viu? Não. Calou-se. Não pôs em risco a sua dignidade. Aguentou firme, valente.
O general G Dias, por tantos anos responsável pela segurança de Lula, contou algo que deixou mal colegas de farda sob seu comando no 8 de janeiro passado? Não contou nem vai contar.
G Dias perdeu o cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional, mas não entregou ninguém. Está comendo o pão que o diabo amassou, calado, viril, indiferente ao sofrimento.
É por aí que Mauro Cid está indo, segundo seu novo advogado e pessoas do seu círculo de amizade. Não toma a iniciativa de nada. Limita-se a responder o que a Polícia Federal lhe pergunta.
Você não vê diferença nisso? Um militar tem compromisso com a verdade. Ensinam os manuais do Exército que um militar pode desobedecer a uma ordem que considere injusta ou errada.
Sem entrar no mérito, não é o caso agora, isso caberá à Justiça esclarecer depois, Mauro Cid, dada à função que exerceu, sentiu-se obrigado a cumprir todas as ordens do presidente da República.
Pode ter se arrependido de não ter dito não a muitas, mas foi o presidente da República que as deu, o comandante supremo das Forças Armadas. Bolsonaro dizia que o Exército era seu.
Mauro Cid comandou tropas e não admitiu desrespeito às suas ordens. Hoje, comanda sua família que está aflita e em perigo. Até sua mulher já foi chamada a depor. É uma triste situação.
Eu sei que a defesa do tenente-coronel se fragiliza à medida que é exposta, mas fazer o quê? Empatia! Ponha-se no lugar dele: o que você faria a essa altura? É a saída que ele encontrou.
Só não pense que ele falará espontaneamente sobre o que não lhe perguntarem, isso jamais. Braço forte, ombro amigo, essas coisas, e por aí vai um homem vítima de um presidente golpista e ladrão.
Mauro Cid é vítima também da sua própria falta de caráter – mas a lei não obriga ninguém a ter caráter.