Um ano depois de conquistar o segundo lugar no reality show Big Brother Brasil, o atleta olímpico Paulo André voltou aos treinamentos diários para retomar a carreira de velocista. Isso não significa abdicar das outras oportunidades que se abriram, como a carreira de influencer com 9 milhões de seguidores e a assinatura de contrato com uma agência de modelos. Em 2023, ele não quer isso “ou” aquilo, quer isso “e” aquilo.
“Este é um ano crucial para mim. Quero voltar a competir em alto nível e já estou treinando para isso. Vou continuar treinando e conciliar com a carreira de modelo, influencer e os projetos na música também”, afirmou o atleta de 23 anos em entrevista exclusiva ao Estadão.
Carlos Camilo, pai e treinador de PA, conta que ele está treinando diariamente em Vila Velha (ES), em um período, mas interrompe a preparação quando surge algum trabalho ou gravação. “Neste ano, nós estamos fazendo os treinos de acordo com os trabalhos. Ele está focado, mas tem contratos a cumprir. O atletismo não é o plano B”, diz o pai.
A retomada na carreira esbarra na popularidade que Paulo André alcançou ao longo da exposição massiva na TV aberta, algo inédito para atletas brasileiros fora do futebol. Ele é a segunda maior personalidade do atletismo em seguidores no Instagram. Com 9 milhões de fãs, o brasileiro só fica atrás de Usain Bolt, que já encerrou a carreira e possui 11 milhões. Antes de ser confirmado no programa, ele tinha apenas 78 mil.
O aumento do número de seguidores e de engajamento das suas postagens cria oportunidades para parcerias comerciais com marcas e patrocinadores.
Em maio do ano passado, o ex-BBB assinou contrato com agência de modelos Way Models, responsável pela carreira de Sasha Meneghel, Alessandra Ambrósio e Carol Trentini, para campanhas e desfiles.
O BBB abriu portas até na música. Paulo André já participou de algumas performances ao lado de grandes cantores, como o sambista Ferrugem. Em maio do ano passado, o capixaba soltou a voz no show de Thiaguinho, em Vitória.
O atleta conta que essa visibilidade também ajudou dentro das pistas. “O ano de 2022 foi marcante. Ele mudou o rumo da minha vida. O objetivo principal era conquistar uma estrutura para dar continuidade à minha carreira como atleta. Hoje, tenho parceiros e patrocinadores que me dão esse suporte”.
Mundial é primeiro desafio
As principais competições de 2023 são o Mundial de Atletismo, em agosto, em Budapeste, na Hungria, e os Jogos pan-americanos de Santiago, em outubro, no Chile, na visão do atleta.
O primeiro desafio é se classificar para o Mundial. Para conquistar a vaga individual, existem vários caminhos, entre eles, conseguir o índice classificatório, em qualquer prova oficial. O Troféu Brasil de Atletismo, principal evento da modalidade na América Latina, será realizado no início de julho.
Nos 100 metros, sua especialidade, o tempo é de 10s. Esse é o recorde sul-americano, conquistado por Robson Caetano em 1988. Em 2018, Paulo André chegou a se tornar o segundo homem mais rápido do Brasil ao fazer a marca de 10s02.
O semifinalista dos 100m nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, também pode tentar se classificar pelo sistema de pontuação, que considera a média dos melhores resultados nas principais competições que disputar. Se nada disso der certo, ele pode tentar se sagrar campeão sul-americano ou “campeão de área” na terminologia da World Athletics, órgão que gere o atletismo mundial.
O campeão estará automaticamente qualificado para o Mundial. E o Sul-Americano será disputado no Brasil. É uma oportunidade única para quem não pode viajar pela Europa somando pontos nas competições mais importantes.
Muitos atletas devem apostar suas fichas nesse torneio, na avaliação de Cleberson Lopes Yamada, especialista em atletismo e técnico do Time Brasil nos Jogos do Rio-2016.
Para o especialista, Paulo André tem uma difícil missão. “Se ele aumentar o seu valor de mercado para eventos e propagandas, isso vai gerar um ciclo em que ele precisará de muito controle para obter resultados na pista. O atletismo é sacrificante e, sem dedicação total e muito foco, fica difícil ter uma performance de alto nível”. “A volta é um desafio para todos nós”, reconhece Carlos Camilo. “Mas o Paulo André gosta de desafios”, afirma.