São Paulo — A indicação do coronel Ricardo Mello Araújo (PL) como vice na chapa do prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), oficializada nessa sexta-feira (21/6), foi uma vitória pessoal do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contra dirigentes dos 12 partidos que formam o arco de aliança, inclusive de sua própria legenda.
Nenhum dos aliados do prefeito, incluindo o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem coube anunciar a indicação, queria como vice de Nunes o ex-comandante da Rota, tropa de elite da Polícia Militar (PM) conhecida pelas ações truculentas, em especial nos bairros de periferia.
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O governador Tarcísio de Freitas e o prefeito de SP, Ricardo Nunes
Divulgação/Prefeitura de São Paulo
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Ricardo Nunes, Baleia Rossi e Tarcísio de Freitas levam salgados e bolo para jornalistas na porta do Palácio dos Bandeirantes
Juliana Arreguy/Metrópoles
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Tarcísio de Freitas, Jair Bolsonaro, Ricardo Nunes e Coronel Mello Araújo após almoço na Prefeitura de São Paulo
Juliana Arreguy/ Metrópoles
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Tarcísio, Nunes, Bolsonaro e bolsonaristas jantando em SP
Divulgação
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Milton Leite, presidente da Câmara de SP, Tarcísio, Nunes e Kassab, secretário de Governo
Mônica Andrade/Governo do Estado de SP
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Tarcísio e Nunes recebendo uma bênção
Reprodução/Canção Nova
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Nunes, sua mulher, a primeira-dama do Estado e Tarcísio, juntos no The Town
Reprodução/Instagram
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Nunes e Tarcísio
Marcelo S. Camargo / Governo do Estado de SP
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O governador Tarcísio e o prefeito Ricardo Nunes
Mônica Andrade/Governo do Estado de SP
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O prefeito Ricardo Nunes e o governador Tarcísio de Freitas
Fernando Nascimento/Governo de São Paulo
Bolsonaro indicou Mello Araújo para o posto ainda em janeiro deste ano a Tarcísio, principal fiador da aliança entre o ex-presidente e Nunes. A indicação se deu um mês depois de uma negociação intermediada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, na qual Bolsonaro disse que só apoiaria o prefeito se pudesse indicar o seu vice.
Mas o nome também não foi bem recebido por Nunes e pelos dirigentes dos partidos aliados, que passaram a cogitar uma série de outras opções para a vice para tentar demover Bolsonaro, como o secretário municipal de Relações Internacionais, Aldo Rebelo (MDB), e a vereadora Sonaira Fernandes (PL), ex-secretária estadual da Mulher.
Nos bastidores, até mesmo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filhos do ex-presidente, manifestavam preferência por outro nome na chapa de Nunes. O próprio prefeito vinha trabalhando para adiar ao máximo a definição de seu vice com a esperança de minar a indicação de Mello Araújo.
Mudanças de cenário O cenário mudou há cerca de duas semanas, depois que o coach e empresário Pablo Marçal (PRTB) colocou sua pré-candidatura a prefeito na rua, e nas redes, mirando os votos de bolsonaristas. Tarcísio, que preferia uma mulher como vice de Nunes, jogou a toalha, cedeu ao ex-presidente e disse para o prefeito aceitar Mello Araújo, mesmo com a evidente resistência de todos os aliados.
O nome favorito de Nunes, considerado sua escolha pessoal, era o de Aldo Rebelo, que chegou a fazer uma foto com o ex-presidente. Havia uma expectativa de que Rebelo, que foi ministro dos governos do PT, pudesse amenizar o rótulo de bolsonarista que o deputado e pré-candidato Guilherme Boulos (PSol), principal adversários de Nunes, vem tentando colar no prefeito.
Tarcísio acata ordem Tarcísio é considerado o mais provável herdeiro político de Bolsonaro para as eleições presidenciais de 2026, uma vez que o ex-presidente está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por abuso de poder na reunião em que tentou descreditar o processo eleitoral brasileiro para diplomatas estrangeiros, em 2022.
Caso queira entrar na disputa, ele precisa manter o apoio do ex-presidente. Valdemar colocou para rodar nesta semana, na propaganda do PL em rádio e TV, uma campanha na qual diz que, caso Bolsonaro se mantenha inelegível, será ele quem indicará o candidato a presidente e o vice-presidente do partido em 2026.
Tarcísio e Nunes jantaram juntos no dia 7/6, uma sexta-feira, e trataram do nome de Mello Araújo. O governador ainda tinha ressalvas na ocasião, segundo interlocutores do prefeito. No fim de semana, porém, Bolsonaro e Tarcísio conversaram e o ex-presidente reiterou sua opção e ainda citou as pesquisas que traziam Pablo Marçal bem colocado, em terceiro lugar, como uma ameaça à ida de Nunes ao segundo turno. Tarcísio entendeu a missão.
Na segunda-feira (10/6), o colunista do Metrópoles Igor Gadelha revelou que o governador seguiria o presidente e indicaria Mello Araújo a Nunes. Ao longo do dia, questionado por jornalistas, Tarcísio confirmou as informações.
Nunes, porém, só encontrou o governador novamente na noite de segunda-feira (10/6). “Eu tenho um monte de jornalista me mandando mensagem, o que você falou?”, disse Nunes ao governador, segundo relato feito pelo prefeito.
O prefeito, até aquele momento, vinha dizendo que o assunto não era urgente e repetia que ele mesmo só foi indicado para vice de Bruno Covas (morto em 2021), para as eleições de 2020, na convenção do seu partido, em julho.
Por isso, ele ensaiou um movimento de construção democrática entorno do nome de Mello Araújo, para que a indicação do ex-comandante da Rota, caso avançasse, ficasse na conta dos dirigentes partidários e de Tarcísio, quem tem uma avaliação melhor do que a de Bolsonaro na capital. “Imposição, não aceitaria de ninguém”, disse, afirmando que o indicado seria resultado de uma construção entre os partidos.
Almoço para aceitar indicação Diante da confirmação pública de que Tarcísio indicaria Mello Araújo, o prefeito chamou o governador para discutir ao tema em um almoço na Prefeitura, na sexta-feira seguinte (14/6). Tarcísio optou por levar o próprio Bolsonaro e o coronel para o encontro. Àquela altura, aliados do prefeito diziam que já não havia como mudar a indicação.
Embora Mello Araújo seja um ex-comandante da Rota, Bolsonaro indicou na reunião o caminho que Nunes passou a seguir para tornar o nome dele mais palatável ao eleitorado: ressaltar seu trabalho à frente da Companha de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), no governo do ex-presidente. Aliados dizem que Mello Araújo “moralizou” a gestão do local, marcada por denúncias de corrupção. Bolsonaro saiu do almoço dizendo que o Nunes e Mello Araújo estavam em “noivado”.
Convencendo aliados Depois desse acordo, coube a Nunes e Tarcísio aparar as arestas restantes, desta vez, sem o envolvimento de Bolsonaro. Enquanto o presidente do PP, Ciro Nogueira, deu aval ao coronel, o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), que vinha buscando formas de emplacar um nome de sua preferência na vice, fez críticas públicas à indicação.
Tarcísio ofereceu um jantar para os aliados na quinta-feira (19/6), no Palácio dos Bandeirantes, com a expectativa de convencer a todos de que a decisão de Bolsonaro estava tomada e não haveria volta. Era seu aniversário de 49 anos. Mas Milton Leite, que comanda o União Brasil na capital, faltou à festa.
No dia seguinte, Nunes estava na porta da casa do vereador, antes das 8h, para resolver o tema. O presidente nacional do União, Antonio Rueda, também foi ao café da manhã, convidado por Leite, e o acordo foi selado. Em troca do aval ao nome de Mello Araújo, Leite conseguiu apoio dos aliados, incluindo o PL, para manter o União no comando da Câmara no mandato que vem. Ele comanda a Casa há quatro anos e tem dito que vai se aposentar da vida política neste ano.
Integrantes de alguns dos partidos da base de Nunes ouvidos pelo Metrópoles, contudo, torcem para que a vitória de Bolsonaro seja temporária, uma vez que há a expectativa de que os insatisfeitos com a indicação de Mello Araújo ainda tentem “fritá-lo” até 15 de agosto, prazo final para a oficialização da candidatura, e trocar o coronel por outro nome na vaga de vice de Nunes.