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Um legislativo republicano

A vitória de Donald Trump em todos os Estados pêndulo e no voto popular deixou bastante claro aos democratas e ao mundo, que é incontestável a escolha da maior parte dos norte-americanos. Para além dessa conquista presidencial, vemos que as eleições legislativas também passaram uma mensagem clara do eleitorado para a classe política, onde a guinada desta vez foi claramente conservadora. Ao longo dos dois dias que se seguiram após as eleições, já foi fácil projetar que os republicanos controlariam pela primeira vez desde 2019, a câmara alta do legislativo do país, o Senado.

Esse órgão do legislativo possui dois assentos por Estado, totalizando 100 cadeiras, em uma distribuição bastante igualitária nas últimas décadas, onde em muitos casos o empate de 50 a 50 ou a pequena margem de 49 a 51, seja em favor dos democratas, seja em favor dos republicanos, representavam entraves ao mandatário na Casa Branca. Após terem conseguido reverter 4 assentos democratas, os republicanos finalizam as eleições de 2024 com 53 cadeiras no Senado, ante 47 dos democratas, uma diferença de 6 parlamentares apenas, mas que no cenário americano faz total diferença para a aprovação de pautas mais polêmicas.

No caso da câmara baixa, o Congresso estado-unidense, conta com 435 cadeiras divididas proporcionalmente à população de cada estado. Para se conseguir maioria absoluta, a aritmética básica nos diz que são necessárias 218 cadeiras, número mágico alcançado hoje pelos republicanos após a conclusão de algumas contagens nos estados mais ocidentais do país. Atualmente, os republicanos possuem 220 cadeiras, número que poderá ser ultrapassado, se considerarmos que ainda há 8 corridas, portanto, 8 cadeiras, para serem concluídas e atribuídas aos democratas ou aos republicanos.

Seja esse número final maior que os atuais 220 assentos, nada mudará o fato de pela primeira vez em 5 anos o partido republicano ter a certeza de que controlará a presidência da república, o Senado e o Congresso por pelo menos dois anos. Em seu primeiro governo, Donald Trump, conviveu com um cenário parecido, mas naquele contexto, o partido republicano ainda era bem dividido em uma ala pró-Trump, ou chamados também de MAGA republicans (em referência ao slogan Make America Great Again) e outra ala mais cética ao bilionário e que preferia seguir a doutrina republicana clássica de Reagan e Bush. Essa divisão intrapartidária naquele momento, fez com que internamente muitas pautas trazidas por Trump ao legislativo fossem engavetadas ou boicotadas por próprios membros do partido republicano e consequentemente a quantidade de poder em suas mãos fosse limitada em determinados assuntos.

Hoje, todavia, o cenário é bem diferente. Desde sua primeira eleição em 2016, mais e mais republicanos se tornaram fiéis primeiramente a Trump e em segundo lugar aos princípios do partido. Considerando o fenômeno eleitoral que foi e continua sendo em múltiplas regiões dos Estados Unidos, Donald Trump ao lado de políticos locais foi fundamental para a reeleição de nomes já conhecidos e a eleição de nomes estreantes na vida política.

Essa conjuntura fez com que oito anos depois de seu primeiro pleito vencido, o partido republicano de 2024 seja majoritariamente trumpista e consequentemente com parlamentares  fiéis à sua ideologia e defensores de suas pautas. Com a vitória em ambas as casas legislativas, Donald Trump terá desta vez grande liberdade de apresentar, votar e aprovar inúmeras questões consideradas prioritárias por sua administração, sem enfrentar resistência interna dos republicanos e sem se preocupar com uma oposição ferrenha, dado o mal desempenho dos democratas nas urnas.

Dentro de suas capacidades e prioridades, Donald Trump poderá votar e aprovar várias medidas de ampliação de proteção das fronteiras norte-americanas, a permissão da deportação em massa de imigrantes ilegais, restrição do direito ao aborto, restrição à venda e uso de drogas e entorpecentes, além de poder barrar ou conceder pacotes bilionários de ajuda militar e financeira à Ucrânia, a Israel, a Taiwan e a diversos outros aliados dos Estados Unidos.

Nesse cenário, muitas das promessas de campanha consideradas polêmicas poderão ser cumpridas, fazendo com que a derrota democrata seja muito mais profunda que o baixo desempenho eleitoral de Kamala Harris. O que podemos concluir por hora, não é apenas que os legisladores norte-americanos sejam hoje o reflexo de uma sociedade que se tornou mais conservadora, mas que biênio 2025-2027 será o com maiores mudanças de paradigmas na história recente dos Estados Unidos. 

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