O Complexo do Nordeste de Amaralina é um dos bairros onde a capoeira escreveu páginas das mais importantes em sua história. Foi lá onde Mestre Bimba viveu parte de sua vida, manteve a academia e criou a capoeira regional. Quando ele se mudou para Goiânia, o Mestre Vermelho 27 assumiu e levou o legado à frente.
Mestre Vermelho foi quem abriu os caminhos para Mestre Boa Gente, que era angoleiro, mas começou a desenvolver um trabalho de Regional e futuramente abriu a Associação de Cultura e Esporte que leva seu nome e fica no Vale das Pedrinhas, inspirando outros como o Contramestre Marcelo, que há quase 27 anos iniciou o Centro Cultural Ganga Zumba, na laje de sua casa, dando aula para um grupo de cinco pessoas – número que hoje ultrapassa 500.
Foi nesse território negro que o Afro Fashion Day retornou, suas atividades presenciais, após dois anos de hiato impostos pela pandemia. Ontem nesta quinta-feira (1) a primeira etapa da seletiva de bairros do projeto, que este ano terá a capoeira como seu tema e guia.
Capoeira e Afro Fashion Day têm tudo a ver. Quem garante é o próprio Contramestre Marcelo, que esteve ao lado de Fagner Bispo, Gabriela Cruz e Filipe Dias no júri que avaliou os 85 modelos que lotaram o espaço.
“A capoeira e o Afro Fashion Day revelam e propõem o reforço da autoestima de nossos jovens. Propostas assim visam levar o povo negro para outro lugar, além de onde querem nos colocar. Por isso o Ganga Zumba abriu as portas. Vamos fazer 25 anos de trabalho social, com a proposta de tirar os jovens da marginalidade, fazendo eles chegarem a outro lugar de fala, de representatividade”, disse o Contramestre.
A programação também foi formativa. Sócio-fundador da agência One Models, Pepê Santos abriu a tarde com um bate-papo e abrindo o microfone para ouvir delas, deles e delus o porquê de estarem ali. Os relatos foram tão emocionantes que fizeram o dia, chuvoso, parecer solar.
“Eu quis trazer um pouco da realidade, que eles conhecessem o que é de fato a seletiva de bairro, que é o momento do AFD encontrar aquele modelo que está disponível na periferia, não tem oportunidade de estar agenciado. Aqui eles podem falar, se mostrar, contar suas histórias, dizer o porquê de estar aqui. É interessante ver como têm o AFD como uma referência para movimentar suas carreiras. Isso foi bonito e interessante”, pontuou Pepê.
A modelo Monique Reis, 19, veio do bairro de Valéria. Se perdeu no Vale das Pedrinhas, mas no final das contas se encontrou e chegou ao Centro Cultural Ganga Zumba. Esqueça chuva, distância ou mesmo o engarrafamento: nada disso tirou o brilho do olhar, tampouco o sorriso do rosto de Monique.
Ela já havia passado na seleção do AFD no ano passado, pela seletiva do Tik Tok, mas não conseguiu desfilar por problemas pessoais. “Sei que vai dar o tudo certo. Esse projeto é maravilhoso e abre portas para nós, jovens, negras e negros, que buscamos uma oportunidade para seguir o nosso sonho”, disse Monique.
A programação do dia ainda contou com dois blocos de aula de passarela com Jonas Bueno, da Focus Moda. Ao final da oficina, Jonas, que há quatro anos participava de uma seletiva de bairro como os 85 sonhadores que ali estavam, não escondeu a emoção.
“É algo muito positivo pra mim que trabalho com juventude preta. O AFD é um portal para essa juventude. Sair de Salvador e levar o nome do AFD é muita responsabilidade. Temos vários rostos, muita inclusão de corpos, tons. Muitas plus, meninos de salto. Esse é o foco do afro. Tirar os corpos do fundão e trazer pra frente, para o cenário de visibilidade. Favela é potência, não carência”, cravou Jonas.
Diretor da SalvadorTech & Criativa da Prefeitura Municipal de Salvador e à frente do programa Salvador Capital Afro, Leandro Lima falou aos candidatos a modelos sobre como a moda pode ser um vetor tanto de desenvolvimento pessoal tanto para quem estava ali buscando seu sonho quanto para a evolução da cidade.
Ele avalia que eventos como o Afro Fashion Day são importantes para fomentar um virtuoso na economia criativa: “Salvador, como todo mundo sabe, é uma cidade com muitos talentos e a moda movimenta toda uma cadeia que emprega muita gente. Vocês que são modelos, a costureira que está no Polo Têxtil do Uruguai, o empresário, a pessoa que faz o design. Olha só quanta coisa. E de quebra temos algo de diferencial que é o talento do soteropolitano”, finalizou.
O diretor explica que projeta a economia criativa como o futuro econômico de Salvador e, portanto, o Afro Fashion Day se torna uma oportunidade de ouro para modelos e à própria cidade. “Salvador, como todo mundo sabe, é uma cidade com muitos talentos e a moda movimenta toda uma cadeia que emprega muita gente. Vocês que são modelos, a costureira que está no Polo Têxtil do Uruguai, o empresário, a pessoa que faz o design. Olha só quanta coisa. E de quebra temos algo de diferencial que é o talento do soteropolitano”, finalizou.
09/09 – 2ª seletiva de bairro
Local: Escola Mundo Negro (Travessa do meio, n. 5, km 17, Itapuã).
Horário: 13h30
Programação: teremos bate-papo sobre a profissão de modelo, uma aula de passarela com Jonas Bueno, do projeto Focus Moda e a seletiva.
15/09 – 3ª seletiva de bairro
Local: Escola Guritá (Rua Agenor de Freitas de Periperi. Condomínio Guerreira Zeferina, Associação 08 de Maio)
Horário: 13h30
Programação: teremos bate-papo sobre a profissão de modelo, uma aula de passarela com Jonas Bueno, do projeto Focus Moda e a seletiva.
A data e o local da final das seletivas serão divulgados em breve. Os selecionados serão contatados pela produção do evento.
O Afro Fashion Day é um projeto do jornal Correio com o apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio do Shopping Barra.