O pequeno Marcos Souza da Silva, de 8 anos, vítima no domingo (14) de soterramento pela segunda vez junto com sua família, no bairro de Cajazeiras, foi resgatado pelos vizinhos graças à ajuda inusitada e bem-vinda do seu cachorro de estimação. De acordo com um dos vizinhos que se voluntariaram a ajudar a família, Raimundo da Silva, de 40 anos, mais de 10 pessoas estavam em busca do menino quando notaram que o cachorro estava imóvel em um lugar específico. “Ele chegou em cima e não quis sair daquele lugar. Foi aí que nós começamos a cavar ali e foi exatamente onde o menino estava”, lembra.
Outro vizinho, o gari Davi Moreira, de 28 anos, detalhou o momento do socorro. “Primeiro, nós achamos a cabeça do menino e fomos procurando, tiramos até com a mão o barro. Foi então que conseguimos encontrar a outra parte do corpo, que estava enrolada em um cobertor. Passamos quase 30 minutos tentando tirar ele, porque tinha muito entulho em cima, barro, pé de banana e outras coisas que desceram junto com o barro. Quando tiramos, ele estava desacordado e logo a Samu chegou”, descreve.
Com atendimento médico de emergência, Marcos foi reanimado e levado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) do Hospital do Subúrbio. Lá, ele foi intubado e seu estado de saúde ainda é considerado grave. Durante esta segunda-feira (15), ele foi submetido a testes para avaliar as atividades cerebrais, que não apresentaram resposta aos estímulos. Em contrapartida, ele respondeu aos sinais vitais e chegou a mover a mão, conforme contou a empregada doméstica Liliane Ribeiro, 42, tia da mãe de Marcos, Iris.
Zarus, pai de Marcos, e Iris, que precisaram de atendimento hospitalar, já foram liberados e estão atualmente na casa da mãe de Iris, acompanhados dos outros cinco filhos e os padrinhos das crianças. Merlim, o cachorro que ajudou no resgate de Marcos, está sendo cuidado por uma vizinha Não há perspectiva de onde a família deve ficar daqui para frente. “Eles perderam tudo. A casa já está praticamente demolida, só tem duas paredes batidas”, afirmou Liliane.
Casa foi isolada pela Defesa Civil de Salvador (Foto: Paula Fróes/CORREIO) |
Segundo os vizinhos, no momento do acidente, todos estavam dormindo, exceto Zarus, que havia ido ao banheiro. Duas crianças, que não foram soterradas, estavam na sala e tiveram ajuda do pai. Para eles, diante do estrondo que ouviram, não restava dúvidas de que a família recebeu uma nova oportunidade de viver.
“Eu estava em casa, cheguei na varanda e ouvi um estrondo. Quando eu olhei, vi a casa e o barranco descendo. Falei ‘a casa do vizinho caiu de novo’, daí desci correndo para ajudar. Consegui pegar logo as duas meninas mais novas, que não ficaram soterradas, e deixei elas aqui em casa. Desci de novo para tentar salvar os outros mais os pais deles. Foi uma luta. Foi muita gente para ajudar. Se não fosse a população, eu não sei o que seria dessa família”, finalizou Raimundo da Silva.