São Paulo — A zona norte tem trechos a leste que fazem o visitante mais desatento custar a acreditar que se trata da mesma São Paulo que abriga avenidas como a Paulista e a Faria Lima, centros financeiros do país. Ruas arborizadas, grandes ladeiras e o clima de montanha, tudo emoldurado pela Serra da Cantareira, dão o tom de bairros da região.
Entretanto, basta um olhar mais atinado para perceber que também estão ali algum dos traços mais cruéis da capital paulista, como a exclusão social que empurra os mais pobres para as beiradas da cidade. Dois de seus bairros, Tremembé e Jaçanã, aparecem entre os seis últimos em um ranking de 96 distritos do Mapa da Desigualdade produzido pela Rede Nossa São Paulo em 2023.
Um dos bairros mais afastados fica para além do trecho norte do Rodoanel, há anos em construção. O Jardim Corisco, no Tremembé, está na encosta da Cantareira, com centenas de casas de alvenaria no meio das quais serpenteiam vielas íngremes. Também há ocupações de movimentos por moradia tão antigas quanto o início das obras da rodovia que promete desafogar a Marginal Tietê.
Moradores do bairro querem o básico para sobreviver com dignidade. “A gente precisa de uma atenção de prefeito e vereador para fazer recapeamento aqui na nossa rua, que está precária”, afirma o mecânico Edes Oliveira Fontinelli, 41 anos. “Outro dia, um caminhão subiu, o asfalto estava esburacado, ele escorregou e bateu em uma casa”, diz.
Motorista de aplicativo, Cristian Ferreira de Lima, 48 anos, está há 40 no bairro. Portanto, cresceu e também viu crescer o local. Diz que o lugar é bom, pacato, mas que há necessidade de uma série de melhorias, a começar pelo saneamento básico. “Precisa de creche, UPA, praça. Iria agregar muito ao que já tem. É um bairro não tão velho, mas já tem ponto final de ônibus, mercado”, afirma.
Apesar dos problemas, quem vive no Corisco diz que a vida por lá é tranquila e que as crianças podem brincar nas ruas mesmo no início da noite. São vantagens que dão orgulho a quem mora nesse pedaço da zona norte, também lembrando pela qualidade do ar. Na poluída São Paulo, Tremembé e Mandaqui estão entre os bairros com menor emissão de poluentes e maior cobertura vegetal.
Também é orgulho o Horto Florestal, local preferido de muitos paulistanos da região, como o motorista Fabio Avelaneda, 36 anos. “É bom, gostoso”, diz.
Avelaneda, entretanto, cita a necessidade de melhorias na região do Mandaqui. São problemas que vão da saúde pública à educação. “Tem uma escola aqui que é excelente, mas temos dificuldade de conseguir vaga lá. Hoje, meu filho estuda lá, mas foi com muita dificuldade”, diz.
Já os problemas sociais afetam os bairros mais próximos da marginal, como é o caso de Santana. Sob os trilhos do metrô, na Avenida Cruzeiro do Sul, barracas de pessoas em situação de rua se acumulam. À noite, a fila de famintos se aglomera nas calçadas à espera de refeições distribuídas por entidades de assistência social e ONGs.
Também na Cruzeiro do Sul é possível ver, nas noites de sextas-feiras, um resquício do antigo Carandiru, hoje transformado em Parque da Juventude. Ali, mulheres e filhos de detentos aguardam os ônibus que os levarão para os presídios do interior do estado, onde estão seus parentes.
De forma geral, moradores trazem consigo boas impressões dos bairros mais próximos das marginais. O funcionário público Matheus Roncatto, 28 anos, vive há 5 na Vila Guilherme e destaca como positivo algo que é visto também por outras pessoas que vivem nessa parte da zona norte paulistana: a segurança. “Tem vários batalhões de polícia próximos, então a gente sempre vê viaturas, policiais nas ruas. A sensação de segurança aqui é boa”, diz.
De fato, a zona norte é conhecida por ser o lugar de moradia de grande parte dos policiais militares que vivem na capital paulista. O motivo é o fato de centros de formação dos PMs, como Academia do Barro Branco e Escola Superior de Soldados, além de diversos quartéis especializados ficarem na região. Portanto, não é tão incomum cruzar com policiais pelas ruas, mesmo que em horário de folga.