InícioEditorialPolítica NacionalDefesa de investigados por agressão a Moraes critica ministro ser assistente de...

Defesa de investigados por agressão a Moraes critica ministro ser assistente de acusação

Foto: Reprodução/TV Globo

Os investigados (da esquerda para a direita) Andrea Munarão, Roberto Mantovani Filho e Alex Zanatta Bignotto 31 de outubro de 2023 | 19:41

A defesa dos três investigados pela autoria de supostas agressões ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e à família dele no aeroporto internacional de Roma classificou como um “precedente extremamente grave” a decisão do ministro Dias Toffoli que permitiu o ingresso do ministro como assistente de acusação e impediu o acesso da defesa ao arquivo das imagens do episódio.

“O que merece muita atenção por parte de toda a comunidade jurídica é que, qualquer exceção que exista neste caso específico, que envolve um ministro da Suprema Corte, pode criar precedente em frontal desrespeito à legislação”, afirmou o advogado Ralph Tórtima Filho à reportagem. Ele representa Roberto Mantovani Filho, Andrea Munarão e Alex Zanatta Bignotto no inquérito.

Em parecer apresentado ao Supremo, o perito contratado pela defesa comparou a forma como o vídeo pode ser acessado por eles – nos computadores da Corte, em Brasília, sem acesso a cópias, a uma “sessão de cinema”, alegando a impossibilidade de periciar o arquivo.

O relator do procedimento, ministro Dias Toffoli, aceitou o pedido de Moraes por meio de uma decisão monocrática do dia 23 de outubro, tornando-o assistente de acusação no inquérito em que consta como vítima.

Especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que a decisão se ampara em uma “brecha” no Código de Processo Penal (CPP), que diz que o assistente de acusação pode ser nomeado na fase de processo – mas não proíbe expressamente que ele atue na fase de inquérito, estado em que estão as investigações do caso de Moraes. O assistente de acusação tem alguns direitos iguais aos do MP, como recorrer de sentenças e fazer alegações finais.

Na segunda-feira, 30, a Procuradoria-Geral da República (PGR) apresentou um recurso, afirmando que a medida é inconstitucional, “sem precedentes” e um “privilégio” na forma como foi estabelecida. A entidade também pede que as imagens de câmera de segurança que captaram o episódio no aeroporto de Roma sejam tornadas públicas – o que não foi permitido por Dias Toffoli.

Perito de Mantovani fala que não vai a Brasília assistir à ‘sessão de cinema’

O ministro deliberou que o arquivo com o vídeo só pode ser visto pelo advogado dos investigados e por um perito particular escolhido por ele. Não foi permitido que fizessem cópia do arquivo.

No mesmo dia do recurso da PGR, Tórtima Filho apresentou o parecer do perito Ricardo Molina de Figueiredo, que afirma que a forma de acesso franqueada por Dias Toffoli não permite a análise plena das imagens. Ele comparou o procedimento autorizado por Toffoli à exibição de um filme. “Afinal, os peritos da defesa não pretendem viajar a Brasília para assistir a uma sessão de cinema”.

“Uma análise realmente completa e detalhada não pode ser realizada sem os equipamentos e programas só funcionais no ambiente do laboratório dos peritos da defesa. A restrição de acesso a cópias do material questionado é anômala e destoa do habitual em processos com segredo de Justiça”, disse Figueiredo no laudo.

À reportagem, Tórtima Filho questionou a falta de paridade entre os recursos da defesa e da Polícia Federal (PF) no caso. “A PF não teve total liberdade de dispor e escolher as imagens que entendeu mais interessantes? O que justifica a defesa não ter esse mesmo direito, de fazer a seleção que for benéfica aos interesses defensivos de seus clientes?”, disse o advogado.

Análise das polícias brasileira e italiana são divergentes

O desfecho das investigações sobre o caso de Alexandre de Moraes e sua família no aeroporto de Roma está atrelado a essas imagens das câmeras de segurança do dia do episódio. A polícia italiana diverge da brasileira sobre como ocorreram os fatos. Por isso, a defesa dos Mantovani insiste no acesso integral ao registro.

Até o momento, está disponível no inquérito apenas um relatório da Polícia Federal que contém frames (recortes, imagens congeladas) do vídeo e as descrições feitas por um perito da corporação. O relatório apresentado diz que Mantovani Filho “aparentemente chegou a bater” no rosto do advogado Alexandre Barci de Moraes.

“Após ter afrontado Barci, impulsionando seu corpo contra este, que estava de óculos, Roberto (Mantovani Filho) levantou a mão e, aparentemente, chegou a bater no rosto da vítima, que teve óculos deslocados (ou caídos no rosto)”, afirma a PF.

Já o relatório da polícia da Itália, que acompanhou as imagens enviadas, narra o episódio de forma distinta, falando que Mantovani encostou “levemente” nos óculos do advogado, durante uma troca de agressões mútuas.

“Às 18h39, repara-se o único contato físico digno de nota, ocorrido entre Roberto Mantovani e o filho da personalidade (Alexandre de Moraes). Nessa circunstância, esse último, provavelmente exasperado pelas agressões verbais recebidas, estendia o membro superior esquerdo, passando bem perto da nuca do antagonista, que, ao mesmo tempo, fazia a mesma ação utilizando o braço direito, impactando levemente os óculos de Alexandre Barci de Moraes”, diz o relatório da polícia italiana.

Por causa desse trecho, Tórtima Filho disse, no pedido apresentado nesta segunda-feira, que “na interpretação das imagens feitas pela polícia italiana, diversamente da análise da PF, quem primeiro tocou alguém foi Alexandre Barci de Moraes”. O advogado sustenta que seu cliente agiu para se defender.

PGR decide se propõe ação penal após término no inquérito

O inquérito só é finalizado quando o delegado de Polícia Federal responsável pelo caso elabora um relatório final, que vai ser avaliado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Se a PF entender que houve crime, o caso vai para a PGR, que tem três caminhos: entrar com uma ação penal contra os investigados, tornando-os réus; devolver o inquérito para a PF, pedindo mais diligências; ou entender que não houve crime e pedir o arquivamento do caso.

Isabella Alonso Panho/Estadão

Você sabia que o Itamaraju Notícias está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.

Últimas notícias

STF suspende prazos processuais em ações ligadas ao RS

Decisão, do ministro Roberto Barroso, também vale para ações na Corte que tenham origem...

Ex de Madonna, Jesus Luz vai a show com credencial de família

Jesus Luz, ex-namorado de Madonna, chegou em Copacabana, no Rio de Janeiro, para assistir...

Tragédia causada pelas chuvas no Rio Grande do Sul já afeta meio milhão de pessoas

As fortes chuvas que atingem o Estado do Rio Grande do Sul já afetaram...

Michelle Bolsonaro pede oração pelo RS em evento no Amazonas

Ex-primeira-dama desejou conforto aos familiares das vítimas; ela estava em Manaus para receber o...

Mais para você