Líderes republicanos em Long Island pediram nesta quarta-feira (11), a renúncia do deputado George Santos, filho de imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, que enfrenta várias investigações sobre suas finanças, gastos de campanha e mentiras durante a campanha. Cúpula do partido, no entanto, se mantém em silêncio sobre o caso, já que uma renúncia levaria a uma nova eleição em um Estado que elegeu Joe Biden em 2020 e em um momento em que a oposição mantém uma minoria apertada de assentos na Câmara.
O presidente do partido do condado de Nassau, Joseph Cairo Jr., disse que Santos perdeu a confiança dos republicanos em seu distrito, dizendo que sua campanha foi de “engano, mentiras, fabricação”. “Hoje em nome do comitê republicano do condado de Nassau. Estou pedindo sua renúncia imediata”. Fontes internas ao partido ouvidas pela CNN americana dizem ser improvável que o alto escalão do partido atenda aos pedidos.
Uma renúncia, no entanto, é complicada para os próprios republicanos, já que Santos está ocupando uma cadeira em um distrito que costuma eleger democratas. Se ele renunciasse, haveria uma eleição especial na qual os democratas teriam grandes chances de vencer. Os republicanos, portanto, não querem correr o risco de perder uma cadeira, especialmente quando estão lutando para manter organizada sua estreita maioria. Santos foi eleito para representar o 3º distrito congressional de Nova York nas eleições de meio de mandato de novembro e assumiu a cadeira no último dia 3 de janeiro.
Nas semanas que se seguiram às revelações do jornal americano, o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, permaneceu em silêncio sobre a controvérsia em andamento, embora tenha dito a um repórter da CNN que não esperava que Santos recebesse indicações para comitês de escolha. A tendência é que Santos seja “escanteado” em sua estreia na Câmara e mantenha-se à margem dos grandes debates legislativos. O deputado não deve contar com apoio do partido para reeleição.
Ainda assim, outro deputado da região reiterou os pedidos de Cairo. Juntando-se por vídeo de Washington, Anthony D’Esposito, que representa um distrito ao sul de Santos, disse que seu colega republicano violou a confiança “não apenas dos eleitores, mas de pessoas em toda o país”. D’Esposito disse que “não se associará a ele no Congresso e encorajarei outros representantes na Câmara dos Representantes a se juntarem a mim para rejeitá-lo”.
Investigações
Os pedidos de renúncia de Santos marcam a denúncia mais contundente dos republicanos sobre o comportamento do congressista, depois que uma reportagem do The New York Times revelou que Santos havia feito falsas alegações sobre sua formação educacional e profissional e levantado questões sobre seus negócios, suas divulgações financeiras e suas despesas de campanha.
Eles também aumentam a pressão crescente enfrentada por Santos, que atualmente é objeto de investigações de promotores federais e locais sobre se suas transações financeiras ou mentiras durante a campanha justificam acusações criminais.
Somente nesta semana, Santos, 34 anos, foi alvo de duas denúncias formais de ética. Na terça-feira, 10, dois legisladores democratas apresentaram uma queixa formal pedindo ao Comitê de Ética bipartidário da Câmara que investigasse se Santos infringiu a lei quando apresentou suas declarações financeiras exigidas com atraso e sem detalhes importantes sobre suas contas bancárias e negócios.
Um dia antes, um grupo de fiscalização convocou a Comissão Eleitoral Federal para investigar o deputado, acusando-o de usar dinheiro de campanha indevidamente para despesas pessoais, deturpar seus gastos e ocultar a verdadeira origem do dinheiro de sua campanha.
Santos também é alvo de investigações aqui no Brasil, onde autoridades policiais disseram que estavam revivendo as acusações de fraude ligadas a um incidente de 2008 envolvendo um talão de cheques roubado, depois que o caso foi divulgado na reportagem do NYT.
‘Questões internas’
A repreensão de Cairo, em particular, representa uma ruptura significativa entre Santos e uma organização que ajudou o congressista a garantir sua cadeira, que cobre uma grande área do condado de Nassau e uma seção muito menor do nordeste do Queens.
Também marca uma divisão nítida entre os republicanos locais e seus homólogos estaduais e nacionais. Santos apoiou McCarthy em sua luta prolongada para se tornar presidente na semana passada. Mas McCarthy não comentou publicamente as reportagens da CNBC e do The Washington Times de que alguém que trabalha com a campanha de Santos se fez passar pelo chefe de gabinete de McCarthy para arrecadar dinheiro de doadores.
Na terça-feira, o líder da maioria republicana, o deputado Steve Scalise, da Louisiana, disse que a liderança do partido trataria de questões sobre Santos “internamente”, mas reconheceu que “havia preocupações” que ele e outros gostariam que fossem abordadas. A deputada Elise Stefanik, de Nova York, a terceira republicana da Câmara, disse a um repórter do Spectrum News que “isso vai acabar”.
Outros republicanos de base foram mais francos em suas condenações. O deputado Nick LaLota, outro legislador em primeiro mandato representando partes de Long Island, pediu uma investigação ética da Câmara no mês passado. O representante Anthony D’Esposito, cujo distrito inclui partes do condado de Nassau, disse à NBC News na terça-feira que também apoiou uma investigação ética.
Na terça-feira, o deputado Dusty Johnson, de Dakota do Sul, disse à CNN que não acreditava que Santos deveria ocupar um lugar nos comitês da Câmara “até que tivéssemos uma compreensão mais profunda do que exatamente aconteceu em sua campanha”.