A conversa de Sergio Moro com Gilmar Mendes, ocorrida nesta terça-feira (2/4), no gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal, e revelada pela jornalista Monica Bergamo, foi talvez a cena que melhor sintetize o que se tornou o ex-juiz e a virada de mesa que nomes que anos atrás foram alvos da Lava Jato conseguiram dar.
Além dos dois, estava na conversa o senador Wellington Fagundes, do PL do Mato Grosso, que intermediou o encontro a pedido de Moro, devido ao bom trânsito que tem com Gilmar. Moro pouco falou, ao longo dos cerca de 90 minutos que o encontro durou. De largada, negou que tenha cometido qualquer crime que justifique uma investida como a que o corregedor nacional de Justiça, Luís Felipe Salomão, vem anunciando que fará, ao enviar ao Supremo Tribunal Federal o relato de suspostos desvios encontrados na 13ª Vara de Curitiba, em que Moro foi titular e de onde comandou a Lava Jato.
Sobre a operação, negou que a Lava Jato tenha cometido ilegalidades e tentou se descolar de Deltan Dallagnol, ao dizer que não tinha relação com o ex-procurador e ex-deputado. “Não vim aqui me defender”, disse. Neste momento, foi cortado por Gilmar.
“Você e Dallagnol roubavam galinha juntos. Não diga que não, Sergio”, disse Gilmar, que a todo o tempo foi tratado de “ministro” e “senhor” por Moro, a quem preferia responder simplesmente por “Sergio” e “você”.
“Tudo o que a Vaza Jato revelou, eu já sabia que você e Dallagnol faziam. Vocês combinavam o que estaria nas peças. Não venha dizer que não”, continuou Gilmar, para um assustado Moro.
O senador prosseguiu na tentativa de se distanciar de antigos amigos, e mencionou outro desafeto de Gilmar: Marcelo Bretas. Disse também não ter relação com o juiz carioca, afastado da 7ª Vara da Justiça Federal no Rio. Gilmar ignorou.
“Certa vez, Sergio, o Paulo Guedes veio aqui ao meu gabinete e disse orgulhoso que havia sido ele quem havia ido a Curitiba convidar você para ser ministro do Bolsonaro. Eu disse a ele que talvez ele não tenha percebido, mas, ao conseguir tirar você de Curitiba, ele deveria colocar isso no currículo. Foi certamente um dos maiores feitos dele no ministério”, tripudiou Gilmar, diante de um Moro com sorriso amarelo.
Wellington Fagundes também observava em silêncio.
Moro disse também que nunca atacou o Supremo e que não concordava com os ataques que o tribunal sofria. E disse que havia rompido com Bolsonaro quando percebeu, em 2020, que estava sendo usado pelo então presidente. Mas não comentou sobre ter reatado com Bolsonaro em 2022, nem sobre o apoio a ele e a assessoria que lhe prestou durante debates televisivos, contra Lula.
Gilmar aumentou o tom, ora num tom duro, ora tripudiando:
“Você faltou a muitas aulas, Sergio. Curitiba não te ajudou em nada. Aproveite que está no Senado e estude um pouco. A biblioteca do Senado é ótima, você deveria frequentar”.
Moro não pediu ajuda para tentar reverter a cassação de seu mandato, que é julgada no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná. Mas perguntou se os dois podiam manter o canal de diálogo aberto. Gilmar Mendes disse que sim. Moro agradeceu ao ministro a audiência e voltou ao Senado. Nesta quarta-feira (3/4), foi de lá que viu o placar do julgamento de sua cassação no Paraná empatar.