A Netflix se prepara para lançar, na próxima sexta-feira (5/7), sua primeira produção com cara de novela — embora não seja assim que a plataforma se refira a Pedaço de Mim. Em vez do formato tradicional, que atrai milhares de brasileiros para as telas todos os dias, o serviço resolveu apostar no termo “melodrama” para a divulgação. Mas, afinal, por que a resistência dos streamings em chamar de novelas as produções inspiradas no gênero televisivo? 

Antes de tudo, é preciso entender que a novela é uma narrativa longa e que conecta histórias de personagens principais com tramas paralelas e papéis secundários, como explica o doutor em teledramaturgia Mauro Alencar. Autor de A Hollywood Brasileira – Panorama da Telenovela no Brasil, ele esclarece que a “novela se refere à estrutura e linguagem, enquanto o melodrama está ligado ao conteúdo”. 

Na avaliação do especialista, Pedaço de Mim está mais próxima de outro termo conhecido pelo público do sofá: minissérie. Com 17 capítulos, a trama integraria o mesmo gênero de A Casa das Sete Mulheres (2003) e A Muralha (2000), dois sucessos da TV. 

Juliana Paes em Pedaço de Mim

Outra explicação possível seria a busca pelo distanciamento de um termo tradicionalmente usado pelas emissoras brasileiras. “Talvez eles não queiram usar essa palavra específica para fugir de uma concorrência direta com aquela que é a maior produtora de novelas, para mim, do mundo, que é a TV Globo”, avalia o jornalista e editor do site Mais Novela, Jorge Luiz Brasil.

Apesar de trabalhar a divulgação com o termo melodrama, a Netflix classifica Pedaço de Mim como “novelas de TV”  em seu catálogo. A trama de Angela Chaves se encaixa ainda nas categorias dramas de TV, brasileiro e programas de TV brasileiros. 

Para além da Netflix, a Max conta com duas novelas em produção: Beleza Fatal e Dona Beja, ambas sem previsão de estreia. A plataforma ainda não adotou uma classificação para os projetos. “Eles estão tratando como novela, mas não sei se quando chegar na época de estreia isso vai mudar”, adianta Jorge Brasil.

Novelas sofrem com audiência, mas ainda fazem sucesso Entre grandes sucessos e rejeições por parte do público, as novelas da Globo perderam quase 40% da audiência ao longo de um ano. A informação faz parte de um levantamento feito pelo site Notícias da TV no fim de 2023. 

Os números, no entanto, podem não ser o que precisa ser analisado pelos estúdios. Para Mauro Alencar, é necessário que autores e diretores acompanhem as mudanças no perfil do público. “A telenovela, em particular a brasileira, precisa se readequar dentro do tempo e espaço em que vivemos. É necessário criar uma conexão maior com os anseios do povo’, defende. 

Do outro lado, Jorge Luiz Brasil levanta outros pontos que considera importantes. Um deles é a preocupação com a estrutura mais tradicional de novelas, o que, para ele, pode afastar o público mais antigo. Dentro disso, ele destaca a perda da “verdadeira essência da novela”. 

“A gente precisa, também, dos atores de novela. Muita gente me questiona no site, Cadê Natália do Valle? Cadê Malu Mader? Malu Mader está voltando agora. Por que Cláudia Abreu não faz novela há tanto tempo? Existe um público de novela que quer ver os atores de novela. É óbvio que quer ver uma revelação, quer ver um ator novo, mas acho que a produção de elenco precisa dosar melhor”, explica. 

Ele diz ainda que acredita que as pessoas perdem o interesse nas tramas por não conhecerem os atores e, assim, não sentirem vontade de assistir às novelas. 

Outro ponto que ele levanta é a forma como é medida a audiência das novelas. Isso porque, hoje, muitas pessoas deixam de acompanhar o conteúdo ao vivo e aproveitam a disponibilidade nos streamings para assistir em momentos mais propícios.